O tabagismo é a grande causa do tumor de pulmão. Mas a doença também pode surgir em quem nunca pôs um cigarro na boca – e, aí, tem características únicas
O cigarro é responsável por 30% de todas as mortes por câncer — esse índice sobe para 80% especificamente entre os tumores de pulmão. Ainda assim, a doença não é uma exclusividade dos fumantes.
Com a queda nos índices de tabagismo, é natural que a porcentagem de pacientes com câncer de pulmão não relacionado ao cigarro aumente.
Um estudo americano divulgado em 2015 dá um exemplo disso. A partir dos dados de 10 593 pacientes com a doença, os cientistas notaram que, entre 1990 e 1995, 8,9% do total nunca havia fumado. Já entre 2011 e 2013, a taxa subiu para 19,5%.
O câncer de pulmão ainda é muito causado pelo tabaco?
Medical Center: Sem dúvida. Cerca de 80% dos casos são relacionados com o cigarro. Dependendo do lugar, esse número varia. Na Ásia e na China especialmente, há uma incidência maior de câncer de pulmão em não fumantes.
Mas não é fácil entender as razões por trás disso. A Organização Mundial da Saúde [OMS] estabeleceu a poluição ambiental como fator carcinogênico. E é muito difícil saber quais casos estão relacionados à poluição ambiental e quais ao cigarro. Mas a poluição certamente tem um papel nisso.
Se pegarmos as últimas décadas, o número de casos de câncer de pulmão em não fumantes cresceu?
Há uma tendência nesse sentido nos últimos anos, mas o que mais chama atenção é que começou a aumentar o tabagismo nos jovens. Então, se não fizermos nada, podemos voltar a regredir nesse aspecto. Quando o tabagismo aumenta, aumenta o câncer de pulmão e a mortalidade por ele. Os países que conseguem estabelecer boas políticas antitabaco são os que décadas depois tem uma queda nos casos de câncer de pulmão. E isso reflete na mortalidade. Vem tudo no mesmo pacote.
Além da poluição e do tabaco, há outros possíveis causadores de câncer de pulmão?
Com certeza. A gente sabe que o gás radônio é um fator bem estabelecido para câncer de pulmão. É um gás que não tem cheiro e não tem cor. Mas é um fator importante e está espalhado.
A exposição ao asbesto [amianto] é outro risco. Além de causar mesotelioma[um tipo raro de câncer], quando associado ao tabaco, o asbesto aumenta muito o risco de câncer de pulmão.
O fato de a pessoa ter feito alguma radioterapia na região do tórax é outro ponto a considerar. Quem tratou um linfoma ou recebeu radioterapia na adolescência ou infância para alguma doença tem uma maior probabilidade de desenvolver câncer de pulmão décadas depois.
Há pesquisadores tentando estabelecer algumas relações com alimentação, mas isso é superdifícil de documentar. Temos evidências limitadas em relação a carne processada, carne vermelha e bebida alcoólica e o câncer de pulmão. Mas é uma possibilidade. Para o câncer colorretal, as pesquisas são mais sólidas.
E existem evidências bem limitadas de que aumentar consumo de vegetais e fazer atividade física reduz o risco de câncer de pulmão. Mas isso também não está definido.
No mais, podemos falar de uma forte evidência de que a contaminação de água portável com arsênico aumenta o risco de câncer de pulmão. E a suplementação de betacaroteno em doses altas também, mas isso não é uma coisa do dia a dia.
O paciente que não fuma e é diagnosticado com câncer de pulmão se sente injustiçado?
No não tabagista, é uma surpresa total e isso até dificulta o diagnóstico. Às vezes, o paciente até apresenta tosse e cansaço, mas vai para o pronto-socorro e o câncer é a última coisa que os médicos pensam. Eles imaginam que é pneumonia, por exemplo. Infelizmente, sabemos de muitos casos em que a pessoa fica meses recebendo tratamento para uma infecção respiratória quando na verdade tem um câncer de pulmão.
Do ponto de vista psicológico, o paciente fica mais perplexo. É uma surpresa para todo mundo. O fumante, por sua vez, carrega um pouco de culpa, o que também não é bom.
O câncer de pulmão em não fumantes é mais agressivo?
Não necessariamente. Se você demora para fazer o diagnóstico, a doença vai se espalhando. E se o paciente chega com múltiplas metástases, aí fica mais difícil de tratar mesmo.
Fonte: Saúde Abril
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